ENTREVISTA: BEN FALA SOBRE O NOVO ÁLBUM E O PROCESSO DE ESCRITA



Após o último show do Neck Deep na Warped Tour desse ano, Ben parou para dar uma entrevista para Tim Cayem e falar um pouco mais sobre o novo álbum. Confira a tradução que fizemos das partes mais importantes da entrevista:

Tim: Seu novo álbum 'The Peace And The Panic' será lançado muito em breve. Vocês estão tocando algumas músicas novas dele aqui na Warped Tour. Como é tocar essas músicas ao vivo para os fãs? Eles já aprenderam bem né?
Ben: Sim! Muito, muito bem. Se tem uma coisa que eu acho que sei fazer é escrever uma música fácil de pegar, e eu acho que especialmente algumas das músicas novas como "pain pain go away", todo mundo sabe isso, não tem que aprender, já está lá. Temos alguns fãs dedicados e fiéis que gostam de quase tudo o que a gente lança, então eu acho que é uma mistura disso e o fato de serem músicas fáceis. Mas elas ficaram muito boas ao vivo. Tocar músicas novas ao vivo sempre é meio estranho no começo, porque você pensa "como eu vou mudar a vibe pra essa música?", mas já que a gente vem fazendo muito isso, conseguimos um sistema para fazer isso. Agora que nos sentimos confortáveis tocando essas músicas, elas ficaram bem melhores em frente ao público. É incrível. Estou feliz que as músicas novas estão indo tão bem quanto as antigas.

Tim: 'Where Do We Go When We Go' tem um pequeno jingle legal em "pain pain go away". Foi intencional no estúdio escrever algo que fique bom ao vivo?

Ben: Claro! 100%. Nós sempre escrevemos pensando nos shows. Mike Green, com quem produzimos o álbum, fez com que certas partes da música o público fosse ao delírio. Então se você procura por esse momento em que eles vão ao delírio, você está tentando fazer com que a música fique boa ao vivo. Às vezes as músicas podem ser maravilhosas no álbum, mas ao vivo não ficam tão boas. Eu acho que para nós é quase o oposto. É melhor ao vivo do que no álbum, porque você tem toda aquela energia. Eu sempre digo que os fãs se alimentam de nós e nos alimentamos deles enquanto o show está acontecendo. Então se eles veem a gente curtindo a nova música, eles também querem curtir. Então sim, nós escrevemos as músicas pensando nos shows. 100%. É quase a consideração principal, tipo "o que vai soar legal para ser uma parte grande do público?", "em que parte eu vou apontar o microfone para o público?". Esses são os momentos que você procura, com certeza.

Tim: Eu escutei dos seus amigos de banda que você é perfeccionista. Então como foi para você? Quantas músicas foram deletadas? Ou quantas letras foram deletadas ou reescritas? 

Ben: Muitas! Muitas letras foram deletadas e reescritas. Eu posso escrever duas ou três versões das músicas ou pelo menos versos ou refrões, e eu sempre mostro pra banda e falo "qual dessas vocês preferem?", eles falam "qualquer uma delas", e eu fico "sério? Eu acho que todas são ruins" e eles falam "não! São todas boas". Eu não sou perfeccionista em nada na minha vida, mas quando se trata de escrever música, eu TENHO que fazer direito, tem que ser perfeito, tem que ser escrito eloquentemente, tem que rimar e todas essas coisas. Eu sou muito particular com meu jeito de escrever. Eu reescrevi muitas, eu sempre escrevo algumas versões, eu apago algo que não gostei e recomeço. Mas é parte disso, é bom, eu gosto disso, faz com que seu cérebro trabalhe, é quase como um quebra-cabeça. Sempre vejo uma música como um quebra-cabeça. Às vezes pode ser uma palavra que você muda e faz com que tudo faça sentido e isso é o que eu amo. Eu amo quando finalmente fica tudo certo, você faz aquele refrão e pensa "é isso! fiquei sentado aqui por dias, horas, semanas, tentando fazer isso funcionar" e quando você consegue é incrível.

Tim: Eu soube que o Sam, do Architects, estará no álbum. Fale um pouco sobre isso. É um gênero completamente diferente.

Ben: Foi uma junção legal para nós. Deram ideia para nós colocarmos participação especial nesse álbum, a gravadora nos dava ideias e a gente ficava meio "não..." e não queríamos ter uma participação especial por causa disso, não queríamos apenas colocar outro vocalista pop-punk tipo "olha, tem participação, legal, tem outra pessoa cantando na música". E dissemos que só faríamos isso se a oportunidade certa aparecesse e fosse algo legal. Não estávamos necessariamente esperando por uma vocalista mais "pesado", mas estávamos pensando "e se tiver um vocalista pop? Ou um rapper?", então aconteceu. Dani acabou escrevendo uma música chamada 'Don't Wait'. Ele ama hardcore, ama música pesada. Então 'Don't Wait' era uma música mais pesada e imediatamente chegou em uma parte e eu pensei "Sam Carter! Precisamos do Sam Carter nessa!". Duas bantas britânicas que apoiam uma à outra, Sam já compartilhou o palco com a gente, ele gosta da banda. E eu sei que o Tom, que faleceu, RIP... Tom Searle era um grande fã da nossa banda, ele gostou muito do nosso último álbum. Nosso empresário é muito amigo deles. Sam mencionou que seria uma coisa legal de fazer porque ele sabia que o Tom aprovaria isso. Nós achamos que era uma ideia legal. Eu acho que se vai ser um espaço para participação, tem que ser único, tem que ser interessante e eu acho que conseguimos isso. Quando você escutar isso... Sam tem uma voz monstruosa. Acho que ele foi um dos primeiros vocalistas de metal muito bons da nossa geração. Tê-lo nessa música é uma honra na verdade, porque todos somos fãs do Architects. Acho que as pessoas irão amar.

Tim: Você já mencionou que o Dani escreveu essa música e ele já me disse que todos vocês estão escrevendo e é algo meio novo para a banda. Como vocês fizeram para que continuasse coeso, continuasse como Neck Deep?

Ben: Eu acho que é uma das coisa bonitas de nós todos estarmos escrevendo é que eu sinto que o Neck Deep agora pode meio que fazer qualquer coisa, porque enquanto você escuta minha voz, é o Neck Deep. Nós temos um som, claro. A bateria do Dani são obviamente um som... Mas tem algumas músicas nesse álbum que são um pouco diferentes, um pouco mais lentas, ou um pouco mais orientadas para o rock, músicas um pouco mais pesadas, músicas indie... Nós quisemos fazer desse álbum algo bem variado, mostrar para as pessoas o que o Neck Deep pode fazer, deixar todas as portas abertas e poder fazer o que quisermos depois que esse álbum for lançado. Queríamos estar prontos para fazer o álbum quatro, cinco, seis, etc, onde possamos fazer o que quisermos. Somos o Neck Deep, e enquanto a mensagem for Neck Deep, isso é o que fará sentido. Eu não estou me achando, mas eu acho que é assim que o cérebro das pessoas funciona, os vocais são sempre o "principal", então quando eles escutam a letra e os vocais é aí que eles pensam "ok, isso é Neck Deep, eu sei que é Neck Deep, eu sei por causa da voz, da letra". Depois desse álbum vai ficar difícil as pessoas saberem o que esperar do Neck Deep. Você tem que ter um equilíbrio. Você não quer ir muito longe do que a banda é, mas com todo mundo escrevendo suas próprias músicas, todos ainda tinham a intenção de continuar sendo o Neck Deep. Essa sempre foi a consideração e eu acho que todo mundo conseguiu juntar isso muito bem. Nós sempre tivemos influências diferentes, mas muitas influências iguais, então isso fez com que o álbum ficasse bem diversificado. E é o que quisemos tentar fazer: escrever bons álbuns, sempre crescendo e nos adaptando sem soar clichê tipo "é um álbum mais maduro". Mesmo achando que algumas músicas são mais parecidas com nossas músicas antigas, elas soam como uma versão mais madura. 

Tim: Vocês tem essa balada triste que é algo marcante na banda, algo parecido com 'December', nesse álbum?

Ben: Sim, temos! Tem uma ou duas músicas nesse álbum que farão as pessoas chorarem, com certeza. Tem uma música chamada '19 Seventy Sumthin' que é sobre... Eu perdi meu pai pouco antes de fazer esse álbum, em outubro, aliás é o aniversário dele hoje... Foi uma experiência difícil para mim, claro, e o Fil perdeu seu pai também alguns meses antes, então passamos por algumas coisas. Esses acontecimentos foram um grande pilar para o álbum. Eu sinto que muitas das influências das letras vieram disso. Eu não queria escrever uma música que fosse sobre meu pai, porque eu não quero chorar sobre isso, mas aconteceu. Eu estava tendo um dia difícil na tour com A Day To Remember na Europa. Foi a última música que levamos para o estúdio, foi a última música que escrevemos antes de entrar no estúdio. Eu estava triste um dia, bem para baixo por causa disso, então sentei com a guitarra e meio que a música saiu. É a história sobre como meus pais se conheceram, essa é uma história um pouco de conto de fadas. Acabou sendo uma música sobre família e o quão importante ela é. É uma música incrivelmente triste, mas com esse estranho otimismo, tem uma estranha felicidade nisso assim como todas as músicas do Neck Deep. Não é uma música tipo "nossa, como a vida é uma bosta", é mais como uma celebração da vida e das coisas boas, e o que eu aprendi dessa experiência de perder o meu pai. Então essa é a balada triste, com certeza. 

Tim: Qual sua música preferida do álbum? Além dessa que você acabou de falar.

Ben: Essa é uma das minhas preferidas, com certeza. Soa meio pop, mas ao mesmo tempo é diferente. Tem outra música chamada 'Parachute' onde, outra vez, estávamos tentando algo diferente, algo meio indie rock. Eu amo todas as músicas no álbum, mas minha preferida sem dúvidas é 'In Bloom'. Essa foi a primeira música que escrevemos para esse álbum. Eu a escrevi há mais ou menos um ano e meio ou dois anos atrás. Por um tempo muito longo era só um verso e um refrão. Começa de uma forma mais sombria e lenta então chega no primeiro refrão e a energia vai aumentando. É um grande refrão no estilo Neck Deep, mas ao mesmo tempo acho que essa música vai falar com muita gente. Pode nos ajudar a nos afastar de onde estamos agora e acho que pode atrair uma audiência mais ampla, enquanto ao mesmo tempo continua sendo Neck Deep. Acho que é uma das melhores se não a melhor música do Neck Deep que nós já escrevemos. Eu acho, pessoalmente. 

Confira o vídeo da entrevista completa:

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